domingo, 18 de outubro de 2009

O maior medo era o de ficar a sós com ela.
Ali no meio da galera era fácil administrar as gracinhas e piadinhas de todos,
“Segura na mão” “Beija na face” “Dá um beijinho na boca”
Todos gritavam eufóricos.
Era quase simples cumprir tão deliciosos pedidos.
Mas, e depois? E mais tarde? E se saíssem e nos deixassem ali?
O que eu iria dizer?
Como me comportar?
Beijar de verdade? Revelar o quanto gostava daquela ruivinha tão delicada? Comentar sobre quão belos eram seus delicados pés? Ou afirmar que, ao sol, seus cabelos pareciam mesmo continuação dos raios do astro rei, como dizia a professora de matemática cada vez que entrava na sala. Perguntar: quer jujuba? E se ela simplesmente sair também? E se disser que nem gosta de mim?
Tantas dúvidas me apavoravam, tiravam o sono, descompassava as linhas musicais de minha vida.
A galera prometeu que dá próxima vez iriam sair aos poucos pra ver se finalmente surgia alguma coisa que durasse muito mais que apenas intervalos entre as aulas.
Assim foi naquela segunda-feira, depois de talvez o mais longo fim de semana de minha vida até aqui.
Foram saindo um a um, ficando só eu e minha menina.
Longo silêncio. Mãos frias. Calor em cada poro. Ela de olhos baixos eu de olhar fixo em sua face meiga e convidativa. Encostei. Toquei-lhe levemente as mãos. Meus lábios tocaram suavemente os dela. E ali ficamos os intermináveis e breves minutos do intervalo.
Por fim um abraço leve e a certeza que amanhã será ainda melhor.

A lágrima

Estava tudo tão silencioso que seria impossível não ouvirem aqueles soluços estranhos que sempre aparecem quando a gente chora.
Parecia que todos resolveram inclusive parar de respirar
Talvez se uma borboleta passasse bailando fosse possível ouvir o toque suave de suas asas na brisa invisível.
Insisti em não deixar que percebessem meu choro
Até que alguém em voz firme e curiosa, como somos sempre, vira-se ao ouvir a lágrima pingar em algum lugar da pele e pergunta o que está acontecendo.
Mas eu não queria falar, adoraria estar ali apenas sentindo a lágrimas rolar chamando assim todas as outras que até então estavam bem guardadas nalgum lugar dos meus olhos.
Em alguns momentos não há muita explicação
Há apenas vontade de deixar ela vir molhar nossos olhos
E face
E peito
E mãos...
Não há mesmo o que contar
Algumas dores simplesmente se instalam e só se vão depois que a lágrima vem e limpa tudo.