quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Linha (não) reta

De repente você está caminhando em linha reta
E quando resolve olhar para trás descobre que aquela estrada não era exatamente em linha reta como você pensava
E percebe que tudo dói de verdade
Que não enxergar o que vê só faz marcas ainda mais profundas.
Olha para os lados e vê suas mãos ali sozinhas
Mas como?!
Eu jurava que as mãos dele estavam também aqui...
Amar é escolha
E nem sempre a escolha é mútua
Resolver seguir só (como só você se sentia)
Talvez seja a dor mais intensa
E a mais simples para ser superada.
Mas como apagar um amor
Que ainda vive aqui dentro?
E sente infinitamente que aquelas mãos outra vez estarão aqui.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Inocência

Certo dia a caminho da universidade dividi a cadeira com uma garotinha que queria a qualquer custo sentar-se próximo ao corredor ônibus. Estranho, já que garotinhas gostam da janela. Acontece que eu queria fugir do sol e não quis ceder aos olhares da garotinha. Minutos depois, a menina, pedindo delicadamente, queria trocar de lugar. Eu friamente retirei os fones de ouvido e lhe perguntei: “por que quer sentar em meu lugar?”. E ela, tão docemente respondeu: “é que eu quero ficar perto de meu amigo que vai subir ali.” Vendo seus olhos brilhando compreendi a intenção e imediatamente trocamos de lugar.
Eu já havia observado os dois conversando noutros dias. Ônibus lotado e ele veio desesperado procurando aquela garotinha, tinha nas mãos um origami. Alheios a todos e ao sol daquele início de tarde, riam, conversavam, exibiam-se. Pura inocência de criança, os primeiros traços de um bem querer, um afeto entre sentimentos tão puros. O brilho nos olhos, o sorriso tão faceiro encantava a todos os adultos que assistiam a cena entreolhando-se como se sentissem saudade de sua tenra idade, como se quisessem abandonar tudo e ser puro outra vez. Gostar assim outra vez.
Depois de meia hora a cena romântica chegou ao fim. A bela garotinha desceu do ônibus, o menino sentou-se ali perto de mim sem perder o sorriso ou o brilho no olhar. Aquela sensação de pureza e inocência ficou ali parada no ar. E cada vez que me lembro de tão intensa cena, suspiro, sentindo saudade de meu passado passado.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A CHUVA

O garotinho passou horas e horas construindo aquela máquina maravilhosa.
Tanto capricho, tanto desvelo, tanto cuidado.
Protegia a máquina de Valente, o bravo cachorro que tinham em casa.
Lili, a pequena irmãzinha, não podia nem encostar que o garotinho imediatamente bradava que a máquina era delicada.
Todos os dias ele ia até a janela...
E a chuva não cessava.
Como pode ser isso mamãe?!
Perguntava a cada manhã para sua mãe que já não tinha mais argumentos que pudessem explicar que A CHUVA SEMPRE PASSA.
Mas não passa nunca!
Nunca é muito tempo meu pequeno
e você tem a vida inteira pela frente.
Os dias passam tão depressa...
Vou lhe ensinar um segredo, disse baixinho ao garotinho
Todas as noites antes de dormir pense com bastante força AMANHÃ VAI SER UM DIA LINDO!
E cheio de esperança ele quis dormir mais cedo naquela noite.
Na manhã seguinte Lili esperava seu irmão acordar olhando bem de perto em seus olhos.
Ainda ta chovendo sabia? Nunca mais vai parar de chover? Você nunca vai poder usá-la.
Disse a espoleta não imaginando a dor que causara no coração de seu pequeno amado.
Ele passou o dia cabisbaixo e o dia pareceu mais longo e chuvoso. Uma chuva densa cobria seus olhos na janela e dentro de si estava tudo ainda mais encharcado que no jardim.
A máquina ali parada o convidava para grandes aventuras
...
E os dias pareciam infinitos...
Querido, acorde!
A esperança traz a felicidade em passos lentos
Devagar para chegar e ter força para invadir o coração.
Levante, venha ver o dia.
Ele mal ouvia o som da voz doce de sua mãe
Procurava som de chuva.
Valente, o cão latia desesperado de tanta felicidade lá fora no jardim
Tem muita água lá fora, vá devagar.
Ele sem medo e transbordando de alegria
Agarrou-se em seu sonho construído com as próprias mãos
Lembrava-se da frase A CHUVA TAMBÉM PASSA
A chuva se foi... ela se foi... veja que céu azul... nuvens...
vento...
Onde está o vento?
Preciso dele mamãe.
Espere. Tenha calma.
Depois da chuva a brisa vem sempre suave acalmando tudo.
Sua máquina estava ali pronta.
E delicadamente ele a soltava com cuidado para não tocar no chão ainda molhado.
A máquina subia envergonhada, devagar ganhava o céu.
Era uma pipa linda
Verde e amarela
Voava com tamanha sutileza que parecia dançar acordes perfeitamente compostos para aquele momento.
Todos parados olhando a pipa subir e subir
Encontrar-se com as nuvens
E mais tarde voltar segura para as mãos do garotinho feliz,
que mesmo desanimado acreditou...
A CHUVA SEMPRE PASSA.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

DOR

Nunca imaginei nem em meus delírios mais alucinados
Que a dor poderia ser palpável.
E é.
Ela é dura, gélida, negra.
A dor paralisa a alma e constrange todos os outros sentimentos
Ela grita tão alto que nada mais sobra além dela
Não, eu não me refiro à dor física
Essa passa com uma dose de farmácia
Falo sim da dor causada por um sentimento chamado amor
Que sendo ferido isola-se como numa ilha
É assim que me sinto
Uma ilha de dor cercada por todos os lados do mais puro amor
E esse amor/dor há de se transformar em raiva ou em rima
Assim espera o poeta que de joelhos
Suplica por um golpe de misericórdia
Suplica para ser salvo desse mar de nada
De sentimentos calados
Vazios
Confusos
Que triste grita apenas querendo amor