domingo, 15 de fevereiro de 2009

Inocência

Certo dia a caminho da universidade dividi a cadeira com uma garotinha que queria a qualquer custo sentar-se próximo ao corredor ônibus. Estranho, já que garotinhas gostam da janela. Acontece que eu queria fugir do sol e não quis ceder aos olhares da garotinha. Minutos depois, a menina, pedindo delicadamente, queria trocar de lugar. Eu friamente retirei os fones de ouvido e lhe perguntei: “por que quer sentar em meu lugar?”. E ela, tão docemente respondeu: “é que eu quero ficar perto de meu amigo que vai subir ali.” Vendo seus olhos brilhando compreendi a intenção e imediatamente trocamos de lugar.
Eu já havia observado os dois conversando noutros dias. Ônibus lotado e ele veio desesperado procurando aquela garotinha, tinha nas mãos um origami. Alheios a todos e ao sol daquele início de tarde, riam, conversavam, exibiam-se. Pura inocência de criança, os primeiros traços de um bem querer, um afeto entre sentimentos tão puros. O brilho nos olhos, o sorriso tão faceiro encantava a todos os adultos que assistiam a cena entreolhando-se como se sentissem saudade de sua tenra idade, como se quisessem abandonar tudo e ser puro outra vez. Gostar assim outra vez.
Depois de meia hora a cena romântica chegou ao fim. A bela garotinha desceu do ônibus, o menino sentou-se ali perto de mim sem perder o sorriso ou o brilho no olhar. Aquela sensação de pureza e inocência ficou ali parada no ar. E cada vez que me lembro de tão intensa cena, suspiro, sentindo saudade de meu passado passado.

3 comentários:

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  2. É engraçado como esses textos personificados em contos prendem nossa atenção! A gente se aprisiona no início e não se incomoda em ficar encarcerado. O que estimula é o desembrulhar da história. Só não gostei pq ela acabou muito rápido! Muito bom Andréia! Arrisque outros assim!

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  3. ai, ai... o amor.. "sublime" amor...

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